quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

RODOVIÁRIA: TÓPICOS HISTÓRICOS
Consta no regimento interno do Arquivo Histórico Municipal Augusto César Pereira dos Santos que toda documentação deve ser recolhida, guardada, classificada, conservada, restaurada e posteriormente deverá ocorrer a divulgação do trabalho realizado. Os documentos devem conter temáticas da história do município e região.
A estação rodoviária de Santo Ângelo de acordo com a fotografia, estava localizada na avenida Venâncio Aires e foi construída no ano de 1952, pelo concessionário desse serviço naquela época, em nossa cidade, Henrique Schutz. Relatos confirmam que era movimentada e aproximadamente 1.500 passageiros utilizavam diariamente os serviços prestados pela rodoviária, fazendo com que a confusão de vozes das pessoas e o trânsito na quadra da Venâncio Aires entre a rua dos Andradas e a Duque de Caxias fossem “ verdadeiramente impressionantes”.
Seu Rousselet, em recente depoimento para a História Oral disserta: “ A sede da estação rodoviária foi mudada para a avenida Venâncio Aires, para um grande prédio construído apropriadamente para uma rodoviária, com um restaurante, também bem grande, tudo bem avançado para a época. Construção executada pelo engenheiro José Carlos Rousselet. Havia uma marquise, cobrindo uns 5 metros de largura”.
Na década de 60. O trajeto entre a estação férrea e a rodoviária da Venâncio Aires, de acordo com o depoimento de Wilson Wilges,era um verdadeiro “footing” a partir da chegada do trem da cidade de Cruz Alta. A conjuntura econômica no espaço era constituída da concentração de postos de gasolina como: Tigrão, Secchi, Brites e de hotéis entre eles, o Hugo, Avenida, Brasil, Maerkli, Vitória, e o próprio comércio e a indústria ali integrados.
No ano de 1969, o concessionário já estava com planos prontos para construir uma nova e moderna rodoviária. Naquele tempo foi cogitado construir a nova rodoviária na saída para Santa Rosa, o que corresponderia ser localizada na região da Salgado Filho com a Venâncio Aires, hoje, no local está o prédio da Assistência Social, pó onde então tomava- se a poeirenta estrada para Giruá e Santa Rosa. Ao passar dos tempos, acabou sobressaindo a idéia de construí- la na Vila Oliveira, onde atualmente está localizada a Rodoviária de Santo Ângelo.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

CINEMA AVENIDA



 No livro lançado pela Academia Santo- Angelense de Letras, “ Memórias Esparsas”-encontramos crônicas com tendência memorialista e que servem de ponto de partida para a história de Santo Ângelo. Hoje, depois das buscas de dados irei transcrever alguns relatos sobre a história o”Cinema Avenida”.
De acordo com a pesquisa do Confrade Paulo Prado, o quinto cinema de nossa cidade foi o Cine Avenida, inaugurado no ano de 1932, no local onde hoje está o Banrisul. Como este cinema sofreu um incêndio- apenas a fachada era de alvenaria e a combustão dos filmes, deu início ao fogo- anos mais tarde, no dia 15 de novembro de 1946, foi erguido o prédio atual.. Era conhecido como cinema da burguesia, frequentado por moradores do Povo Novo, conhecido como Alemanha, constituído por imigrantes alemães.
A Confreira Elsa Frey Prietto no texto sobre “ A Família Frey”, que também integra o livro”Memórias Esparsas”,elenca que no ano de 1927, deu- se a mudança para santo Ângelo, decorrente da compra que fizera Roberto Frey: a quadra da avenida Brasil, desde onde é, hoje as lojas Pompéia, esquina com a marquês do Herval até a casa de esquina da Marechal Floriano. Essa quadra abarcava vários metros quadrados com algumas casas construídas no enorme espaço..Nessa quadra, havia a casa da família. Muito espaçosa, com jardim e roseiras de rosa chá e folhagens de várias espécies; pomar com árvores frutíferas e canteiros de morangos maduros, cujo perfume atravessou o século, até hoje; um grande espaço vazio onde hoje é o Banrisul. Ao lado, foi construído o Novo Cinema Avenida. Cinema que havia já, há anos atrás.
Para o senhor Antonio Carlos Rosselet, em manuscrito entregue ao AHMSA: “foi Roberto Frey quem construiu o cinema Avenida e iniciou a fazê- loa funcionar em conjunto com seus filhos, Walter, Vilma, Norberto e a filha Taty. O Cinema Avenida era localizado na avenida Brasil, onde está o atual prédio do Banco do Rio Grande. Construção totalmente de madeira, com camarotes nas laterais. Semelhante e concorrente ao cinema Apollo, porém não tinha palco. Disputavam a clientela, porém, tinha melhor programação de filmes. Melhores companhias cinematográficas. Propagandas eram colocadas nas esquinas com cartazes... Frey tinha um conhecido que conduzia a propaganda com sua baratinha e ele vestia- se como Tom Mix e gostava de brigar a socos”.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

AS CAVALHADAS

Os cavalheiros da fotografia estavam participando das famosas cavalhadas que eram realizado no Santo Ângelo Antigo.As cavalhadas, costume ibérico com fortes raízes no folclore riograndense, tiveram no "Club Gaúcho" o seu grande incentivador. sua última realização data 1925 e foi encenada na antiga praça da Liberdade ( hoje, INSS e outros). Na luta entre os mouros e cristãos, cavalheiros da alta sociedade santoangelense, com seus cavalos, estavam na disputa da princesa Floripa ( geralmente um barbado vestido de mulher). Uma excelente descrição das cavalgadas de Érico Verríssimo em o "Tempo e o Vento".

HISTÓRICO:Durante a dinastia carolíngia( século VI d.c.), portanto há quase 1500 anos,Carlos Magno, de religião cristã, lutou bravamente contra os sarracenos, de religião islâmica, impedindo-os de invadir o centro norte da Europa. A cavalhada é uma tradição dos torneios da Idade Média, onde os aristocratas exibiam em espetáculos públicos, sua destreza e valentia. Na verdade, cavalhada representa a luta entre mouros e cristãos. O feito foi amplamente divulgado, como mostra de bravura e lealdade cristã, por trovadores que viajavam por toda a Europa.E ficou sendo conhecido como a "A Batalha de Carlos Magno e os 12 pares da França", um verdadeiro épico, cantado em trova, como forma de incentivar a população cristã contra as investidas dos exércitos islâmicos, que, apesar da derrota na batalha de Carlos Magno, não abandonou as investidas, principalmente ao sul da Europa, vindos da Mauritânia.Conhecidos como mouros, os mulçumanos da Mauritânia, invadiram,no século VIII, o sul da Península Ibérica, dominando a região de Granada(Espanha), de onde foram expulsos somente em fins do século XV. Foram quase 800 anos de ocupação moura por quase toda a península, o que, inegavelmente, colaborou para o avanço tecnológico destas nações, uma vez que os mulçumanos árabes, propagadores do islamismo, eram mais evoluídos, do ponto de vista tecnológico, artístico e cultural, do que os cristãos da época. Os reis que resistiram a este avanço refugiaram ao norte da península e mantiveram intacta sua cultura, vindo deles a iniciativa de expulsão da soberania moura na Península Ibérica. Incorporada ao folclore, durante séculos, a História de Carlos Magno era atração nas vozes dos trovadores e, somente em idos do século XIII em Portugal é que a Rainha Isabel resolveu instituí-la como uma festividade, aos modos de uma representação dramática, quase que como um jogo de xadrez, a fim de incentivar a instituição cristã e o repúdio aos mouros.A sua realização está ligada à Festa do Divino Espírito Santo, que tem origem na tradição portuguesa e leva em conta o calendário da Igreja Católica. Segundo a liturgia religiosa, é o dia de Pentecostes, exatamente 50 dias após a Páscoa. Provavelmente a Festa do Divino Espírito Santo foi instituída pela rainha Isabel, esposa do rei trovador Dom Dinis, de Portugal. No Brasil essa tradição teria chegado por volta de 1756, com os portugueses, e ganhando perfil próprio em cada Estado, em cada região brasileira.A FESTA: Na verdade, cavalhada representa a luta entre mouros e cristãos. São doze cavaleiros mouros e doze cavaleiros cristãos. No final da longa batalha, vencem os cristãos que ainda conseguem converter os mouros ao cristianismo. Trata-se de uma tradição praticada em várias regiões do Brasil, porém com diferenças marcantes de uma região para outra. Num grande campo de batalha, onde de um lado, o lado do poente, 12 cavaleiros cristãos vestidos de azul, a cor do cristianismo, lutam contra 12 cavaleiros mouros vestidos de vermelho, encastelados no lado do sol nascente.No Brasil esta representação dramática foi introduzida, sob autorização da Coroa, pelos jesuítas com o objetivo de catequizar os gentíos e escravos africanos, mostrando nisto o poder da fé cristã.A hierarquia dos exércitos da Cavalhadas segue, tanto para os cristãos como para os mouros, a seguinte ordem: dos doze cavaleiros temos no mais alto posto o Rei, abaixo deste temos o Embaixador e seguindo abaixo os dez restantes cavaleiros. O último cavaleiro só subirá de posto se houver morte ou desistência de algum outro acima, o mesmo acontece com o Embaixador, que só tornar-se-á Rei se o próprio Rei morrer ou desistir. Durante três tardes, as “tropas” de cristãos e mouros representam, com seus desafios e carreiras, as lutas travadas entre Carlos Magno e os Sarracenos, que terminam no final da segunda tarde com a rendição, ou seja, a conversão e batismo dos mouros. Após a vitória dos cristãos, os mouros são batizados por um padre.Os cavalos também são amplamente ornamentados, com patas pintadas, protegidos na fronte com metais polidos, e envergando plumas na cabeça.
Fonte:
LIED,Arlindo. " Minhas Reminiscências de  SantoÂngelo".
MACHADO,José Olavo: "História de Santo Ângelo- das Missões aos nossos dias"



segunda-feira, 18 de outubro de 2010

CURIOSIDADES SOBRE A VILLA DE SANTO ÂNGELO

Rua Antunes Ribas e a praça Pinheiro Machado-aproximadamente 1915
A Agência Postal inaugurada em 8 de abril, teve como primeiro agente, João da Silva Monteiro que exerceu o cargo até 1919.
O primeiro Tiro de Guerra (1908), que funcionou no município foi o de nº25, e foi fundado por Bonifácio Pereira Gomes, seu presidente. A linha de Tiro ficava nos terrenos da Livraria Missioneira, hoje, onde é o restaurante Quick, muito distante da "villa" no começo do século passado.
Os carreteiros realizavam "pousos" à beira da lagoa que estava situada onde hoje encontramos o Calçadão da 25 de Julho e dali para o norte só se avistavam campos, poi ali era o término da "villa".
As cavalhadas, costume ibérico com fortes raízes no folclore riograndense, tiveram no "Club Gaúcho" o seu grande incentivador. sua última realização data 1925 e foi encenada na antiga praça da Liberdade ( hoje, INSS e outros). Na luta entre os mouros e cristãos, cavalheiros da alta sociedade santoangelense, com seus cavalos, estavam na disputa da princesa Floripa ( geralmente um barbado vestido de mulher). Uma excelente descrição das cavalgadas de Érico Verríssimo em o "Tempo e o Vento".
Em 1940, o " footing", acontecia pela noite na avenida Brasil, lembrava a rua da Praia de Porto Alegre. O Café Avenida dos Frey, era o ponto chic, tanto no salão de inverno, onde se jogava baratinha, como ao ar livre. No verão era animado po orquestra. Havia também, um sério concorrente, o Danúbio Azul(local onde foi construído o Banco do Brasil), famoso pelo seu chopp.
A partir de 1944, o Café Maerkli, recém construído, com seu proprietário alegre suíço dominava a banca. Ficaram famosos seus bailes de carnaval no quiosque, reuniões dançantes no salão de inverno e a roleta em benefício. Era frequentado pela sociedade numa época em que os clubes estavam em construção ou em crise.
Na década de 30, a nossa cidade passava o maior sufoco com o abastecimento de água, mas para alívio da população, ocorreu o início dos trabalhos de construção da hidrulica no espaço físico da antiga praça da Liberdade e a era dos poços estava destinada a terminar.

Observação: as buscas de dados foram realizadas nas anotações do Augusto César Pereira dos Santos.(AHMACPS)

sábado, 18 de setembro de 2010

domingo, 12 de setembro de 2010

Podemos através dessa fotografia visualizar a rua Marques do Herval com a Bento Gonçalves, sentido sul ao norte. A praça Pinheiro Machado está localizado ao lado esquerdo. A data aproximadamente é de 1910.

Air - La Femme D'Argent

Eis o valor de um acervo cultural. É um túnel do tempo! 4 dias depois boa parte, senão a totalidade dessas pessoas estavam mortas e a cidade em ruínas. Perdemos tempo demais com tolices. A qualquer momento a natureza pode nos "deletar".
Para os cinéfilos, segue o que talvez venha a ser o mais antigo filme já produzido (1906)!!São cenas filmadas a partir de um "cable car" na Market Street, em San Francisco, California.
É surpreendente a quantidade de automóveis que já existiam àquela época.
E quantas imprudências se cometiam, nas barbas dos policiais (Provavelmente, nem havia Leis de Trânsito...)!!
O trânsito era caótico com a convivência, não tanto harmoniosa, entre pedestres, bicicletas, charretes, automóveis, cable car, bondes, etc.
Observe que os bondes que cruzam a rua já possuem tração elétrica!
No final da rua, existe um prédio que está lá até hoje, pois trata-se do terminal de passageiros da Baía de San Francisco.
O filme, após muita polêmica, teve identificada a sua origem, bem como a data de sua produção:
É um filme produzido em 14 de abril de 1906, 4 dias antes do grande terremoto que acabou com a cidade de San Francisco. O filme foi embarcado para New York, num trem, para ser processado, daí ter sido poupado daquela tragédia.

domingo, 15 de agosto de 2010

“ Diário e uma narrativa verídica para meus netinhos - Kurt R Kiechle "



(parte I)


Em buscas de dados realizada no acervo da Hemeroteca do Arquivo Histórico Municipal Augusto César Pereira dos Santos, encontramos um texto curioso no Jornal A Cidade, que relata uma fatalidade que estava acontecendo naquela época, no mês de agosto de 1965, precisamente dia 20 de agosto. Irei transcrever o texto mantendo a fidelidade e ortografia original: " Diário e uma narrativa verídica para meus netinhos de Kurt R Kiechle. "

"Às sete horas da manhã, normalmente encaminhei-me ao banheiro e , ás 7, 15 horas ao sentar- me a mêsa para o desejum, sobressaltei- me: algo estava caindo que não era chuva. Corri a ver melhor e constatei que era neve. Corri escada acima, acordei a espôsa Hilga e as filhinhas Jacqueline( 5 anos), Ingrid (7) e Valkiria (1,5) para não perdrem o espetáculo. Dirigindo- me ao emprego na Cia de Cigarros Souza Cruz, no trajeto a neve já estava caindo com mais intensidade. Meus colegas, alvorotados com o impossível, como eu, não trabalharam praticamente neste dia, tal era o estado de animo ante o inacreditável. Às 9 horas, a neve caía com tal intensidade, em flocos tão grandes que começaram a impedir a visibilidade, proporcionando uma visão inesquecível e estupendo para nunca mais ser esquecido.O sr. G. Melchiors, logo após o início do expediente, no auge do entusiasmo, correu a buscar sua " Roley- Flex" e lá paramos nós, todo o mundo a passar nos jardins, páteo a tirar fotos coloridas, os quais nos lembrarão êsse excepcional dia em Santo Ângelo. Às 10 horas, os telhados começaram a ficar brancos, os gramados perderam sua tonalidade verde. as paisagens as apresentavam totalmente brancas. Um emissário nosso voltava cabisbaixo da cidade, não conseguira encontrar mais filmes, a população estava em delírio, na Praça Rio Branco os fotografos aproveitavam o ambiente ' Bariloche brasileiro....'
A neve aumentava de intensidade, a altura do chão também e, sem que ninguém protestasse surgiu a idéia do boneco, o qual em poucos momentos estava em pé, fumando seu cachimbo... de repente, sem declaração ou licença ' a guerra' começou, um atirava neve no outro, todos estavam loucos de alegria, tinham virado crianças novamente, inclusive eu... apenas o sr. P. Schlick teimava em não expôr seus raros cabelinhos exclamando: que desastre, que desastre para o Rio Grande na pecuária e agricultura... O sr. Aury Rodriguês- T Güther, U. Graebin descobriram a " bola de neve", rolando uma pequena bola ela aumentava aos poucos, ficando com mais de um metro de altura, quando tinham que parar por falta de força... e a "guerra" continuava... apenas o gigante A, Schmidt e o solteirão A. Cozzatti não aderiram... até que alguém deu as "costas" para êles... A Rádio santo Ângelo apelava: " A vila do Sossego" transmite um SOS pungente,o Itaquarinchim estava inundando tudo, e os flagelados aumentavam. Nelson Kothe, do Clube Atafona aderiu, doando alta quantidade em dinheiro. M.F.C.- Rotary_ Lyons- Escoteiros- Damas da caridade- L.B.A- Exército todos enfim convocavam suas classes para socorrer os flagelados. Entre o belo, existia a calamidade e urgia providência..."

Obs: Mantemos a escrita original do texto

segunda-feira, 5 de julho de 2010

VELHOS TEMPOS


Últimamente vale buscar algo que nos remetem ao passado, e encontramos uma fotografia da década de 20. Relatos em buscas de dados relacionados com a fotografia mencionam sobre a tradição de realizar piqueniques na cascata do arroio Itaquarinchim ou Taquarinchim (Como afirma seu Léo Fett) por políticos, convidados especiais e amigos. Podemos observar o Intendente Bráulio Oliveira vestido de branco ao centro, sendo ele o anfitrião do momento. As famílias convidadas realizavam momentos de lazer através de produções literárias, recitais poéticos e brincadeiras diversas.
Nos encontros realizados também eram tratados assuntos sobre a política municipal, estadual, nacional e bem como a mundial ( possíveis). Podemos no imaginário popular deduzir sobre as decisões que eram tomadas entre sombra e água frescas, apesar que nenhum dos homens estão vestidos adequadamente para o banho na cascata. Estavam comemorando algo, pois podemos observar homens assegurando garrafas. Este momento foi registrado onde hoje se encontra o moinho do Funguetto.
Poucos dados podemos registrar e transcrever pois a história está cheia de lacunas. Necessitamos de contadores, de pessoas folclóricas e mais fotos que registram a história do município. Você, caro leitor poderá participar enviando fotos de familiares, amigos e conhecidos com um breve relato para o e- mail: eunisiaineskilian@hotmail.com. Vamos criar uma rede de informações históricas sobre o município e região das missões. Agradecemos a colaboração dos participantes e créditos serão mencionados. Pois, tempos modernos podem nos remeter ao passado e a história não deve acabar.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

NATUREZA ÁGUA

Foto do rio Ijuí Grande aproximada da década de 30- meios de transportes utilizados sobre o rio: a barca e canoas.
" A natureza de formas de vida é nossa apólice de seguro.
Nossa vida e os meios de subsistência dependem dela."
Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente.
Como sabemos a água é fonte de vida para a humanidade. Já fomos convidada para refletir, partilhar e a comprometer- se com a questão social e na qual foi sugerido uma revisão das relações da água com o nosso corpo, a nossa casa e o meio ambiente, pois a vida nasce e se sustenta na água.
Há muito tempo, na década de 30, Serafim Dias Ferreira, realizou os " Estudos de Estatística" no município de Santo Ângelo, onde abrangia várias temáticas temáticas e entre elas, a hidrografia. Segundo o pesquisador, o sistema hidrográfico que congregavam esta vasta região missioneira que pertencia a bacia ocidental do estado iniciava- se nas vertentes para o rio Uruguai que banha o norte,e em divisa com a Argentina
Os rios Inhacorá, Santa Rosa, Santo Cristo, Boa Vista, Comandaí, Ijuí-Grande,( acrescentaria o Ijuisinho), são tributários do rio Uruguai e para ele correm em direção sudeste- noroeste. Muitas cascatas com volume de água considerável e outras com quedas de menor força eram aproveitadas para serrarias, moinhos e outras indústrias. Nas extensas florestas eram encontradas exemplares de ipê, cedro, louro, canela, cabriúva, grapiapunha, angico, guavijura, açoita- cavalo,etc. E a indústria extrativa de madeira utilizava a via fluvial para escoar seus produtos em enormes balsas pelo rio Uruguai e com destino aos portos ribeirinhos e mercados na república Argentina e no Brasil.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

A CENTENÁRIA PRAÇA PINHEIRO MACHADO


A praça Pinheiro Machado está entre as mais populares da cidade, sendo cúmplice com a majestosa Catedral, tornando- se um largo onde a comunidade se faz presente. Palco da solenidade de formandos do ensino superior, bem como onde o patriotismo é demonstrado na semana da Independência, através de discursos inflamados, contendo esperança, críticas e sonhos, na busca de alternativas para uma cidade em construção. Praça da comunidade, dos mendigos, da cigana Milka, da banca de revistas, dos pastéis, dos churros, dos sorvetes, dos picolés, pipocas e algodão doce . Reveladora também dos namoros ocultos, da prostituta em busca de aventura e do homem e mulher acolhidos em sua solidão. A praça Pinheiro Machado foi assim determinada pelo decreto nº6 de 11 de agosto de 1897.
Em busca de dados já realizados para o projeto da educação patrimonial encontramos algumas curiosidades sobre a praça Pinheiro Machado e a seguir serão elencadas:
- o Coronel Braulio Oliveira, na Lei orçamentária para o exercício de 1905, dissertou sobre a praça Pinheiro Machado: " Esta praça continua a ser arborizada com capricho. Os claros que existiam entre os edifícios que dão para esta praça, foram tomados com grades sobre muros para ainda maior embelezamento da mesma praça.",
- no ano de 1915, foram colocados cordões de pedra grês no quadro da praça, e esta praça estava provisoriamente fechada de arame nela com o objetivo de iniciar a arborizamento.
- o monumento a José Bonifácio de Andrade e Silva, o Patriarca da Idenpendência, foi inaugurado na praça Pinheiro machado, no dia 7 de setembro de 1922. Ficava plantado bem no centro da praça e cercado de arame. No decorrer do tempo, o monumento andou de lado para outro e foi parar finalmente em 1963, no cruzamento da avenida getúlio Vargas com a Três de Outubro, em frnte ao Colégio Verzeri. Atualmente, não se encontra exposto nas ruas de Santo Ângelo;
- a partir de 1932, a praça sofreu a sua primeira grande reforma no governo de Ulysses Rodrigues. O engenheiro José Carlos Medaglia, nomeado diretor de Obras e Viação, deu- lhe uma feição moderna. Os cinamomos substituiram os plátanos, riscou- se um novo traçado, calçaram- se com lajes de concreto as faces norte e leste, que dão para as ruas Antônio Manoel e Antunes Ribas. O espaço entre os canteiros foram ajardinados. Ocorreu mudança de uma estátua, também foram comprados materiais para a extiñção de formiga e colocados 85 bancos.
Somente restou da antiga praça Pinheiro Machado o escrito na calçada em pedras de cores diferentes a seguinte frase:" Executado pelo Dr. J.C. Medaglia na Administração do Dr. Ulysses Rodrigues- 1932."

segunda-feira, 24 de maio de 2010

RUA ANTUNES RIBAS- BREVE HISTÓRIA

Rua Antunes Ribas sentido norte/sul.Aproximadamente década 40

Ao realizarmos a busca de dados sobre a rua Antunes Ribas, constatamos que no dia 20 de agosto, a via estará completando 113 anos. O ato nº1 de 20 de agosto de 1887, promulgou a lei que deu nome dessa rua da nossa cidade.Augusto César Pereira dos Santos em seus relatos deixou uma breve biografia de Antônio Antunes Ribas, que iremos transcrever: " Antunes Ribas nasceu em Santo Ângelo, no dia 8 de outubro de 1844, filho do fazendeiro Antônio Antunes da Costa e de Maria Ribas. Diplomou- se pela faculdade de Direito de São Paulo em 1868, e no mesmo ano casou- se com Lydia Roseira Ribas. Da união, nasceram os filhos Malvina Ribas e Antônio Antunes Ribas Filho. Começou a advogar em Cruz Alta e Santo Ângelo. Em 1872, transferiu- se para Porto Alegre, onde assumiu a redação do órgão liberal, " A Reforma". No ano de 1874, voltou a cidade de Santo Ângelo, como juiz Municipal do termo criado em 18 de agosto daquele ano. No ano seguinte foi eleito deputado estadual. Em 30 de setembro de 1878, fundou juntamente com Venâncio Aires e outros, a Loja Maçônica "Luz da Serra". Em 1880, foi eleito deputado federal. Pouco antes foi chefe da polícia em nosso estado e em Pernambuco. Era figura de destaque no Partido Republicano. Com a reorganização da Magistratura Estadual, Antunes Ribas recebeu outra incumbência das mais honrosas: desembargador e vice- presidente do Tribunal de Justiça . Santo Ângelo cultuou a memória de seu filho ilustre dando o seu nome a uma das principais artérias da cidade".Para Arlindo Lied ficou a lembrança da casa construída por Matheus Becker nas ruas Antunes Ribas com a esquina da Três de Outubro, na qual foi inquirido por que o diabo fazia a casa tão longe da via frente a um capão de branquilho.

Relatamos sobre a rua Antunes Ribas, mas conforme subsídios encontrados, a pesquisa será complementada. Pois essa rua é minha, é sua, é nossa rua, também do Oscar, do Yone, da Vera da Gica, dos vereadores, dos prefeituráveis, do poeta, do jornalista, do advogado, dos comunicadores, dos comerciantes e de todos os seres humanos habitáveis que influem e fluem no desenvolvimento econômico, político e social dessa artéria abençoada por Deus.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

13 DE MAIO



" Desde que a República dos Palmares foi destroçada e Zumbi foi morto, no seio do Parlamento Brasileiro começou a germinar o embrião da liberade.Como salpicos negros que em turbilhão vão surgindo e massacrando a alvura de uma tela, assim na consciência branca dos deputados começou, então, a ressaltar a effigie negra, mas sublime e heróica de Zumbi. E os Zumbis multiplicaram- se, reincarnando- se em milhares de brancos. A imprensa encarniçou- se na lucta. Não era mais a lucta com forças designaes entre negros e brancos; não era mais uma caravana de negros, resvalando miseravelmente pelos sertões do Brasil em busca da liberdade que se apresentava a elles como miragem enganadora dos desertos; não era mais a lucta da serra da Barriga contra o Brasil inteiro; mas era um novo Palmares implantado no próprio Parlameno do Império. Era preciso vencer, a razão o empunha. José do Patrocínio, o mestre da palavra, tornou- se então a garganta de onde brotavam todos os lamentos e todas as queixas dos escravos. Elle era como o acumuldor de todas as energias dos opprimidos a espalhar pela imprensa e pela tribuna, em forma de luz, o grito de revolta. E sua palavra de fogo conseguiu entrar até no próprio coração da princeza Regente, estimulando- a assignar a carta de 13 de Maio. E o Brasil inteiro rehabilitou- se desse tremendo desleixo que pesava sobre a nossa reputação de povo livre. Parece que o sangue rubro de Zumbi e de seus companheiros, diluindo- se na atmosphera, ergueu- se para formar o escarlate da aurora de 13 de Maio de 1888. Nesse dia memoravel, parece que o Amazonas e o o S. Francisco saccudiram as suas caudas immensas, expelindo os últimos restos de lodo que lhes ficava desta cruzada santa para a lberdade para purificar as aguas que haviam dixado de ter a funcção de dessedentar escravos."

O texto foi escrito pelo Dr. A.B. de Serro Azul no dia 7 de maio de 1921, e encontra- se no "Jornal A Semana ",no acervo da Hemeroteca do Arquivo Histórico Municipal Augusto César Pereira dos Santos.

Obs: respeitamos a escrita ortográfica da época.

Postado por Eunísia Inês Kilian, responsável pelo AHMACPS desde 19 de abril de 2010.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Um olhar sensível sobre o passado



A foto acima expressa uma cena cotidiana de um dia qualquer do ano de 1949. Na fotografia temos uma imagem da Av. Marechal Floriano, na altura do Hotel Brasil. Em direção ao sul vemos os prédios que compõe o panorama arquitetônico entre a Travessa Mauá e a Rua 25 de Julho, com suas formas geométricas e linhas horizontais. Nos dias atuais, depois de inúmeras alterações, esses imóveis perderam grande parte dos seus traços de origem, porém se olharmos para o alto ao passarmos por ali, ainda percebemos detalhes que resistem ao tempo e guardam na sua materialidade um reflexo de dias, fatos e costumes do passado.
Essa visão sobre o cotidiano exige daquele que olha consciência de si no mundo enquanto sujeito histórico. A fotografia "congela" em imagem uma cena comum do cotidiano, mas que guarda para a posteridade um "modo de vida" específico daquele período que ela representa. Na dinamicidade da vida humana em suas relações sociais a transformação é constante, e o que é hoje amanhã não será mais, ou será de formas diferentes.
Olhar para uma imagem do passado e sorver toda a possibilidade de identificar as mudanças e permanências, diferentes tempos e espaços, aguça a consciência crítica, a valorização do patrimônio e o reconheciemnto do sujeito enquanto cidadão que pertence a uma comunidade. Para isso, é preciso olhar para o passado com sensibilidade.
"As sensibilidades se apresentam, portanto, como operações imaginárias de sentido e de representação do mundo, que conseguem tornar presente uma ausência e produzir, pela força do pensamento, uma experiência sensível do acontecido. O sentimento faz perdurar a sensação e reproduz esta interação com a realidade. A força da imaginação, em sua capacidade tanto mimética quanto criativa, está presente no processo de tradução da esperança humana". (Sandra Pesavento)

quarta-feira, 24 de março de 2010

Arquivo Histórico Municipal Augusto César Pereira dos Santos completa 17 anos

Documentos do Acervo.

O Arquivo Histórico Augusto César Pereira dos Santos, foi criado pelo decreto nº 2.202 de 23/03/1993 e decretado como patrimônio histórico e cultural do município pela lei nº 2.792 de 04/11/2004, levando-se em conta a importância do seu acervo documental para a história político-administrativa de Santo Ângelo e região. O acervo do arquivo é de grande relevância para a pesquisa e o desenvolvimento cultural e intelectual não apenas para Santo Ângelo, mas para os demais municípios da região que no passado fizeram parte de nossa cidade do ponto de vista espacial e administrativo. Representa assim um patrimônio documental para toda a região noroeste do Rio Grande do Sul. Segue abaixo a relação de alguns dos docuemntos que fazem parte do acervo:

Hemeroteca:

O Arquivo Histórico Augusto César Pereira dos Santos possui em seu acervo várias coleções de jornais, tais como “A Semana”, fundado em 1919; jornal “O Missioneiro”, fundado em 1925; jornal “O Minuano” e jornal “O Debate” entre outros. Além das coleções completas dos jornais em circulação como A Tribuna Regional, Jornal das Missões e O Mensageiro.

Documentos:

Na seção documental, encontram-se materiais de relevante importância para a história do município e região, como é o caso do livro O Rio Grande do Sul, de autoria de Alfredo R. da costa, datado de 1922 que se constitui num dos livros mais utilizados para pesquisas e abrange um período da história as Santo Ângelo no qual os limites do município em questão eram a República da Argentina, ao norte; os municípios de Palmeira e Ijuí ao leste; Julho de Castilhos e Santiago do Boqueirão ao sul e São Luis das Missões a oeste. Há igualmente o “Álbum Ilustrado do Partido Republicano Castilhista, de 1934” – material este que se destaca por sua raridade e conteúdo histórico. Além destes materiais, encontram-se na seção documental do Arquivo Histórico, materiais como:

Livro de Marcas e Sinais – 1892/1896;
Livro de Lançamento de Impostos de registros e marcas de Santo Ângelo – 1889/ 1891;
Livros de Receitas sobre Indústria e Profissão – 1881 a 1882
Folhas de pagamento da Intendência – 1929;
Livros de Impostos – 1889;
Livros de recenseamento de 1926 do 1º, 2º, 3º, 4º e 5° distritos.
E outros documentos de importância histórica e que datam de 1873 até 1984.

Biblioteca:

O acervo da biblioteca encontra-se dividido em seções de livros de História Geral, História do Brasil, História Regional e História do Município e região. Há obras de expressiva importância cultural cujas edições já se encontram esgotadas, como é o caso do título “Inocência”, de Visconde de Taunay, datado de 1900; “Os trinta Povos Guarani”, de Arnaldo Bruxel, de 1940; “Generalidades das Missões Jesuíticas”, de Bazilisso Leite, “Cronologia da História Rio-Grandense”, de 1916, obras em língua alemã que pertenceram a Valentin Von Adamovich entre outros. Além de obras recentes sobre a história local e regional.

Fototeca:

Na seção de fotografias, podem ser encontradas imagens de diversas épocas, como por exemplo, fotos das décadas de 1920, 1930 e anos posteriores. As temáticas são variadas: imagens da Catedral Angelopolitana, das Ruínas de São Miguel, das praças, dos prédios de maior vulto, da Estação Férrea e Memorial Coluna Prestes, de famílias tradicionais do município de Santo Ângelo, do Hospital Gatz, hoje demolido; registros fotográficos da ocasião em que nevou em Santo Ângelo no ano de 1965 entre tantas outras imagens.
Há também um acervo particular do Se.º Bruno Sshmidt com mais de 2.000 fotografias que foram doadas ao Arquivo Histórico e que estão aguardando classificação.

Mapoteca:

Nesta seção podem ser encontrados mapas de diferentes épocas e até de séculos anteriores de alguns países, como por exemplo um mapa da África editado em Paris; do Brasil; dos Estados; dos municípios da região; do município, bem como mapas hidrográficos de Santo Ângelo, São João Batista e São Miguel. Além dos mapas de divisões das linhas, que demarcavam a distribuição de terras aos imigrantes alemães na região.
As plantas também estão inseridas nessa seção e se dividem em: plantas dos países, como o “Plano del território de Missiones” (Posadas, 1936); Estados; cidades (Cidade de Passo Fundo, 1922); Municípios (Planta da vila de Santo Ângelo, 1897) e plantas dos distritos.
O Arquivo Histórico funciona junto à Secretaria Municipal de Cultura, no Centro Municipal de Cultura na Rua Três de Outubro, nº 800. E está aberto a todos os pesquisadores, professores, alunos e comunidade em geral. Visitas com trabalho de educação patrimonial e explanação sobre a História do Municipio podem ser agendadas pelo telefone: 55 3313 6321.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Cine Cisne: 52 anos de atividade

Movimentação em Frente ao Cine Cisne em 22/03/1958 - data de sua inauguração.

Junto com o aniversário da cidade, o Cinema Cisne também aniversaria e marca nesse ano 52 anos de atividade. Esse importante empreendimento cultural que resiste ao longo do tempo é parte da vida cultural da cidade. Escrevi o texto abaixo no ano passado para a inauguração da nova sala de cinema, o popular "Mini Cisne". O texto foi utilizado pelos colegas Leoveral Soares e Fábio Petry, que junto com fotos e imagens, fizeram um belo vídeo, exibido no ato de inauguração e que homegeou a família Panzenhagen pela luta constante em favor da sétima arte em Santo Ângelo.

"A história do cinema na cidade e região se confunde com a história da família Panzenhagen. Sob a influência de seu filho Hélio, um apaixonado pela sétima arte, e um assíduo freqüentador do cinema, é que o senhor Carlos Panzenhagen assume ainda na década de 40 a sociedade do antigo Cinema Municipal, que hoje infelizmente não existe mais. A partir desse momento o grupo de sócios foi aumentando ao longo do tempo e novas casas foram surgindo com a construção do Cine Cisne em Santo Ângelo, do Cine Lux em São Luiz Gonzaga , o cine Apollo de Giruá e do Cine Belvedere na zona norte de nossa cidade. Foram momentos áureos da arte cinematográfica em nossa cidade e região, assim como em todo o mundo o cinema foi o protagonista de muitas histórias e também parte da história de muitas pessoas. No final dos anos 70 as diversas mudanças na conjuntura socioeconômica do planeta provocaram dificuldades na manutenção das atividades desses espaços de arte.
Foi em 22 de março de 1958, exatamente 51 anos atrás que ocorreu a inauguração do Cinema Cisne através de seus sócios proprietários Marcelo Mioso, Hélio Carlos Panzenhagen e Fiorindo Fantinelli. O cinema era na época um moderno espaço voltado para a sétima arte, referência em nossa cidade, região e estado.
Muitos capítulos viriam a se desenrolar na história do cinema Cisne. Uma história de garra, persistência e muita luta. Como todo grande filme repleto de emoção, altos e baixos o enredo da história da família Panzenhagen e sua luta para manter viva a sétima arte em Santo Ângelo pode ser estampada através das manchetes dos jornais locais. Em 1987, quando Flávio Panzenhagen assume a administração do cine Cisne juntamente com seu pai Hélio, o movimento do cinema já não era mais aquele de outras épocas e o grande número de sócios insatifeitos com a empresa anunciavam a possibilidade do cinema fechar as portas para fugir das dívidas. Porém aos poucos, pai e filho unidos enfrentaram as dificuldades e mantiveram o cinema em atividade ao longo desses 51 anos.
Ainda hoje o Cisne ostenta o título de “maior tela do Rio Grande do Sul” e guarda dentro de suas paredes, em sua tela, em cada poltrona, inúmeras histórias.
Ao longo desse mais de meio século, acalentou sonhos de mocinhas enamoradas pelos galãs holliwodianos, a agitação da gurizada nas batalhas do velho oeste, no riso que ecoava pelo gigantesco espaço quando Chaplin ou Mazzaropi aprontavam das suas. Que menino não desejou ser um Tarzan, um Batman, um Superman, um Homem Aranha? E qual deles não se sentiu realizado por alguns minutos em frente à tela do Cisne? Quantos casais apaixonados não namoraram nessas poltronas ao som, e na penumbra ofuscada pelos rápidos flashes de imagens, dos grandes clássicos do cinema mundial?
Não foram poucas as vezes em que o cinema esteve na iminência de sua última sessão nesses últimos anos. Mas Flavio nunca desistiu e contou com a ajuda de muita gente, do setor público, privado, dos amigos, da comunidade e de inúmeros anônimos, apaixonados pela sétima arte. Todos segundo palavras do próprio Flávio de uma forma ou de outra auxiliaram não só na recuperação do Cisne como na possibilidade de expansão da atividade que hoje deixa de ser um sonho e se torna realidade através do Mini Cisne.
Na inauguração do Cine Belvedere em 26 de fevereiro de 1972, na Zona Norte da Cidade, o Mini Cisne já era um sonho para o Sr. Hélio Panzenhagen e demais sócios da empresa Cine Missioneira Ltda. Sendo anunciado pelos principais meios de comunicação da cidade como “uma verdadeira jóia que Santo Ângelo ganhará”.
A idéia inicial era inaugurar a nova sala nas festividades do centenário da emancipação político-administrativa de Santo Ângelo, em 1973.
Uma coisa podemos afirmar com certeza... que a história do Cisne se confunde com a história da vida de milhares de santo-angelenses... Ele é referência, ponto de encontro... é impossível imaginar a movimentada Marquês sem o Cisne. O cinema tornou-se uma propriedade não só de uma pessoa, de uma família, mas de inúmeros Marcelos, Domingos, Maristelas, Fiorindos, Hélios e Flávios... Hoje um dos pontos turísticos de nossa cidade, mas já há muito tempo um caso de amor de todos aqueles que tiveram momentos inesquecíveis em seu interior... Cinema Cisne é um caso de amor com Santo Ângelo... O amor de gerações que estrapolou os limites de uma família e se disseminou pelos corações de homens, mulheres, jovens e crianças de toda uma cidade.

Hoje fazem quase quatro décadas do inicio desse “Sonho”. Um sonho que “O vento (quase) levou” devido aos “Tempos Modernos” do vídeo cassete e do Dvd. Mas o Cisne tornou-se um “Clube da Luta” intercalando momentos de “Guerra e paz”, e como a “Estrada da Vida” é cheia de surpresas, hoje se abre uma “Fenda no tempo” e através de uma “Corrente do bem” o “Último dos moicanos” realiza, como um legítimo “Pagador de promessas”, o que antes estava “A esperade um milagre”... Infelizmente hoje não se tem a presença do “Poderoso Chefão” daquele que tanto sonhou e lutou por esse projeto, mas que junto “A Cidade de Deus” assiste hoje a nossa “Terra em transe” ao tornar-se realidade um desejo de amor de um “Amor, sublime amor” à arte e a cultura, e que em justa homenagem leva seu nome.

A empresa Cine Missioneira Ltda. tem o orgulho de entregar a “Cidade dos Anjos” a sala de cinema Hélio Carlos Panzenhagen".

sexta-feira, 19 de março de 2010

137 anos de Emancipação Político- administrativa de Santo Ângelo

Vista aérea da cidade - Sudoeste a Nordeste na década de 1960.

A cidade de Santo Ângelo está situada no noroeste do estado do rio Grande do Sul. O inicio da história da cidade está ligada com a fundação em 1707 da redução de San Angel Custódio, a última redução dos Sete Povos das Missões e que localizava-se no atual espaço que compreende a Praça Pinheiro Machado, Catedral Angelopolitana e arredores reconhecido hoje como o Sitio Arqueológico de Santo Ângelo Custódio, centro histórico do município.
San Angel Custódio foi fundada pelos jesuítas, à margem esquerda do rio Uruguai com o povo vindo do atual território da Argentina, da antiga redução de Conceição. Sob a coordenação do Pe. Jesuíta Antônio Sepp, primeiramente em 1706 a redução teria sido fundada na região do atual município de Entre-Ijuis, próximo ao entroncamento dos rios Ijui Grande e Ijuizinho sendo transferida no ano seguinte para a atual Praça Pinheiro Machado e imediações.
As reduções jesuíticas seguiam um plano urbanístico que variava em poucos detalhes entre uma e outra. O modelo padrão consistia em uma rua principal que dava acesso à Igreja que era o prédio mais importante de todo povoado. No centro ficava a praça onde ocorriam os desfiles militares, as encenações religiosas e as festas. Em torno da praça ficavam alinhados os blocos de casas dos índios de forma ordenada, o que permitia o crescimento planejado do povoado. Junto a Igreja ficavam os prédios utilizados pela comunidade. De um lado ficavam a casa dos padres, as oficinas e o colégio, todos com amplos espaços e grandes pátios internos. Do outro lado da igreja ficava o cemitério e o cotiguaçu (casa que abrigava os órfãos e as viúvas). Atrás da Igreja ficava a quinta dos padres onde eram cultivadas hortaliças e árvores frutíferas. Ainda, na periferia das reduções, encontravam-se fontes de água, olarias onde se fabricavam os tijolos de barro chamados adobe e as telhas que serviam para a construção das casas, além de curtumes, açudes, capelas, estâncias e ervais.
O povoado missioneiro de Santo Ângelo Custódio se caracterizava pela semelhança aos demais povoados jesuítico-guarani fundados na região do atual Brasil, Argentina e Paraguai, tendo, porém diferença em relação a localização da igreja, que tinha sua frente voltada para o sul. A moderna Santo Ângelo desenvolveu sua estrutura urbana respeitando o traçado da redução, a Praça Pinheiro Machado ocupa o espaço da antiga praça missioneira, a Catedral atual, moderna e que traz simbologias ligadas à história missioneira, foi construída a partir de 1929 no local da antiga igreja da redução, anterior a ela existiu ainda uma igreja menor construída nas últimas décadas do século XIX pelos primeiros colonizadores.
A História das Missões Jesuíticas no lado oriental do Rio Uruguai, tem seu desfecho com a Guerra Guaranítica em meados do século XVIII, como consequência do Tratado de Madri e a permuta de terras entre Espanha e Portugal. Após a Guerra, durante quase um século o antigo povoado ficou abandonado. O mato cresceu e tomou conta de tudo. Apenas no final da década de 1850 é que chegariam os primeiros moradores que, se utilizando da proposta urbanística e dos remanescentes arquitetônicos do povoado de Santo Ângelo Custódio, ergueriam aos poucos a cidade que conhecemos hoje.
Hemetério da Silveira, que esteve no local da antiga redução em 1859, relata que “o mato que crescera mal permitia avistar de longe, por entre as frondas das árvores, a parte superior do frontispício do antigo templo”. A ocupação do espaço da antiga redução ocorreu nesse mesmo ano de 1959 quando os Srs. Antônio Manoel de Oliveira e o Dr. Antônio Gomes Pinheiro Machado, juntamente com outros descendentes de portugueses que ganharam sesmarias na região, desmataram o local, expondo os remanescentes dos antigos edifícios da redução. Eles aproveitaram as estruturas das construções do velho povoado para erguer no entorno da antiga praça o novo vilarejo. Conforme Hemetério da Silveira em sua última visita à Vila de Santo Ângelo, em 1886, uma das antigas casas de indígenas era aproveitada por uma família pobre, as outras três das quatro que ele havia registrado em 1860, já haviam sido transformadas em casas novas.
A “Villa” Santo Ângelo foi criada pela a Lei Provincial nº 835 de 22 de março de 1873, separando a nova localidade do município de Cruz Alta. A política santo-angelense foi marcada pelo coronelismo característico do período republicano do Rio Grande do Sul até meados da década de 30. O município logo após sua criação abarcava o território das atuais cidades de São Luiz Gonzaga, Santa Rosa, São Miguel das Missões, além de outros municípios menores que se emanciparam posteriormente. A economia do período era essencialmente agrícola e pastoril com produção de lã, erva-mate, fumo, arroz, charque, banha, feijão, milho, farinha de mandioca e de milho, aguardente, couro e vinho.
Foi com a chegada dos quartéis, da luz elétrica, do telégrafo, da rede telefônica e a construção da ponte sobre o rio Ijui, nos primeiros anos do século que a cidade começou a se modernizar e se expandir. Nesse período ocorreu a chegada de novos colonos europeus que provocaram uma profunda mudança cultural e econômica, com ênfase para as pequenas propriedades agrícolas e uma grande explosão demográfica.
Mas foi a partir de 1921 que se desenvolveria a cidade para o lado norte, com a chegada do trem. A estrada de ferro marcaria um novo período histórico com a vinda de colonos alemães e o desenvolvimento do comércio e da industria, já que o trem possibilitava a exportação dos produtos. Destacaram-se nesse período industrias como a Sociedade de Banha Sul-rio-grandense Ltda; Sociedade Algodoeira Sul-rio-grandense Ltda. Comercial Braatz (ferragens em geral); Indústria de torrefação e moagem de café; moinho de Trigo entre outras.
O prédio da Estação Ferroviária, atual Memorial Coluna Prestes, foi construído por Gildo Castelarin, tendo como base um projeto arquitetônico realizado por uma Companhia Inglesa, sendo inaugurada em 16 de outubro de 1921. Além do desenvolvimento econômico do município o prédio representa um dos fatos mais importantes ocorridos a nível nacional durante a República Velha. Foi no interior do prédio que aconteceram as primeiras reuniões que levaram ao levante do 1º Batalhão Ferroviário, no movimento que ficou conhecido nacionalmente como Coluna Prestes, liderada pelo “Cavaleiro da Esperança”, Luis Carlos Prestes, que atuava na cidade como engenheiro. A marcha da coluna percorreu mais de 25000 Km Brasil adentro, denunciando o modelo coronelista, corrupto e injusto do governo da “república do café com leite”. Foi também da Estação Férrea que em 1930 partiram as forças revolucionárias da região, que levaram Getúlio Vargas à presidência da república.
A História de Santo Ângelo é riquíssima e possibilita acompanhar diferentes períodos históricos da formação do Brasil. Ao longo desses mais de 300 anos ela perpassa desde o período colonialista da catequese jesuítica ao período do governo imperial, da imigração européia ao coronelismo, da industrialização do país a participação em revoltas políticas. Esse passado permanece ainda hoje expresso nos locais de memória, nos achados arqueológicos, nas ruas da cidade, na arquitetura e principalmente na cultura e na identidade da comunidade santo-angelense.

Referências:
YUNES, Gilberto Sarkis. Santo Ângelo 1897: Povoação Inicial e Reconstituição do Traçado da Vila. 1994.
BRUXEL, Arnaldo. Os trinta povos Guaranis. Porto Alegre: EST/Nova Dimensão, 2ª ed. 1987.
Documentos do acervo do Arquivo Histórico Municipal Augusto César Pereira dos Santos.
*Texto publicado originalmente no site: www.cantomissioneiro.com.br

sexta-feira, 12 de março de 2010

A Ponte sobre o Rio Ijuí

Na foto acima é possível observar a ponte do Rio Ijuí em madeira e a estrada que dava acesso a mesma em 1922.


A ponte sobre o Rio Ijuí liga Santo Ângelo a Entre-Ijuís e às rodovias que dão acesso a demais localidades do estado. Parece-nos impossível imaginar que um dia ela não estava naquele lugar e que a travessia se dava por balsa ou por dentro d’água. A primeira ponte foi de madeira, construída no inicio do século passado e teve uma enorme importância para o desenvolvimento da cidade.

Em uma das mensagens apresentadas pelo intendente Coronel Braulio de Oliveira, ao Conselho Municipal de Santo Ângelo no ano de 1904 ele transcreve um documento do governo do estado no que se refere a construção da primeira ponte de madeira sobre o Rio Ijuí Grande. O relatório diz o seguinte:


Por ordem do illustre dr. Parobé, digno secretario de obras publicas foi autorisado o diretor da Colônia Ijuhy, nosso amigo dr. Augusto Pestana, a mandar cortar a madeira e fazer transportal-a para o local da obra, para a ponte de rodagem que vae construir-se no passo geral sobre o Ijuhy Grande, seis kilometros distante da prospera villa de Santo Ângelo, em Missões.

Esta importante ponte, que tem 224 metros de secção de vasão, dois encontros, seis pillares de alvenaria e sete apoios sobre estacada, corresponde à uma vital necessidade para a viação fácil e rápida entre os municípios de Cruz Alta, Santo ângelo, São Luiz e Palmeira, feracíssimos na producção agricola e cujos campos apropriam-se admiravelmente a creação vaccum, cavallar e muar.

O nosso eminente chefe dr. Borges de Medeiros, cuja actividade profícua e creadora está votada ao desenvolvimento material e moral do Rio Grande do Sul, como genuíno e acatado sucessor do inviolável extincto dr. Julio de Castilhos, promove incessantemente toda a sorte de melhoramentos para facilitar a vida e economica e industrial de nosso caro Estado.

O orgam republicano se regosija em registrar factos uteis que attestam a benemerencia da nossa administração e envia parabens aos conspícuos amigos general Firmino de Paula e coronel Bráulio Oliveira que tanto esforçaram-se para conseguir esse desideratum.

Brevemente daremos sobre esse mesmo assumpto uma noticia descriptiva da obra e a importancia total de seu orçamento".


O intendente termina o texto ressaltando que: “Felizmente começa a ser uma realidade o sonho dourado dos nossos antepassados!”.

terça-feira, 2 de março de 2010

Escola de Bordado

As fotos abaixo também fazem parte da coleção de Augusto Bier. São imagens do interior da Casa Franke, que se localizava no prédio da esquina das Ruas Marechal Floriano e 25 de Julho. Além do comércio em geral e da revenda de carros e de gasolina, o senhor Franke realizava negócios com máquinas de costura e bordado com foco no público feminino da cidade. Conforme as palavras do Sr. Elemar De La Rue: "Também havia lá uma agência bem equipada e sortida das máquinas de costura e bordado da marca Mundlos, alemã, com bem montada escola de bordados, cuja professora era a Gasparina".
É impressionante a riqueza de detalhes do interior do imóvel, assim como a moda e os cortes de cabelo na década de 30. Porém, indo além da beleza das fotografias, e buscando reconstruir a partir delas o ambiente político-social do período histórico que representam, tais imagens permitem remontar o universo feminino nas primeiras décadas do séc. XX, quando as mulheres ainda não tinham conquistado grande parte dos direitos que possuem hoje e em sua maioria viviam para se dedicar ao casamento e às prendas domésticas.

Augusto Franke, professora Gasparina e auxiliares.Década de 1930


Alunas do curso de bordado.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O Arroio Itaquarinchim: protagonista da História e do desenvolvimento de Santo Ângelo

Cascata do Itaquarinchim em 1921.


Família Albrecht em momento de lazer às margens do Itaquarinchim. Década de 20.

Construção da ponte sobre o Itaquarinchim, na rua Antônio Manoel, saída para a Avenida Sagrada Família na década de 30.


O arroio Itaquarinchim exerceu uma importância estratégica no desenvolvimento de Santo Ângelo ao longo de sua história. Com suas límpidas nascentes junto ao atual distrito de Comandai, o arroio vai crescendo ao longo do caminho e cortando a cidade. Suas águas vão perdendo a transparência ao atingirem a cidade e as árvores que antes tinham as folhas espelhadas em suas águas não repassam essa mesma sorte às casas, pontes e pessoas que fazem parte agora da paisagem urbana do arroio. Teimando em sobreviver, ainda dá pequenos sinais da diversidade da flora e da fauna que o acompanham. Ao mesmo tempo em que divide a cidade, o Itaquarinchim que abriga em suas margens indústrias, bairros e conseqüentemente esgoto e lixo, é ironicamente a fonte para a captação da água que abastece parte de Santo Ângelo.

Seria possível afirmar que a localização da cidade de Santo Ângelo no local em que se encontra nos dias atuais se deve a existência do Itaquarinchim. Santo Ângelo como sabemos, desenvolveu-se primeiramente como o último dos 30 povos missioneiros, sendo fundado no entorno da atual Praça Pinheiro Machado no ano de 1707. Para a fundação de um novo povoado, os padres jesuítas avaliavam diversos critérios que eram essenciais para a frutificação do projeto da Companhia de Jesus. Conforme o Pe. Antônio Sepp em seus escritos intitulados de “Viagem às Missões Jesuíticas e Trabalhos Apostólicos” entre os critérios estavam a qualidade da terra, a luminosidade, a altitude do local e é claro a fartura e a proximidade de águas para o abastecimento do povoado. Levando-se em consideração esse último item, certamente o Arroio Itaquarinchim localizado a algumas centenas de metros do local onde fora a Redução de Santo Ângelo Custódio, deve ter feito a diferença para a implantação do povoado.

Na obra “A Guerra Guaranítica: como os exércitos de Portugal e Espanha destruíram os Sete Povos dos jesuítas e índios guaranis no Rio Grande do Sul”, o historiador Tau Golin reproduz parte do Diário da Expedição e Demarcação da América Meridional e das Campanhas do Rio Uruguai, escritos por José Custódio de Sá e Faria quando das demarcações do Tratado de Madri em 1751. Nessa descrição quando relata a chegada do grupo de oficiais portugueses na Missão de Santo Ângelo, descreve brevemente a passagem pelo Itaquarinchim: “Andamos meia légua, caminho de norte; e, em meia marcha, passamos um arroio de água corrente, com palmo e ½ de alto, e 15 palmos de largo, no qual, para a parte de baixo, tinha uma pequena ponte de paus e tábuas já bastante arruinadas, por onde somente passaram todas as tropas a pé”.

Pela sua proximidade com o povoado o arroio certamente desenvolvia papel fundamental para a população local, tanto na captação de água utilizada nas casas, igreja e oficinas, assim como para bebedouro dos animais, além de ser uma referência geográfica de localização, aspecto importante para uma época desprovida dos meios tecnológicos que possuímos na atualidade.

Após a Guerra Guaranítica e a expulsão dos jesuítas, o processo de repovoamento se daria a partir da segunda metade do século XIX. A ocupação ocorre por descendentes de portugueses e famílias que reutilizam o espaço e os remanescentes arquitetônicos da antiga redução. Nesses primeiros momentos da construção da Vila, o Itaquarinchim servia como ponto de paragem para as tropas de muares, gado e outros animais domésticos. O clima quente de verão e o crescimento da população levariam a descoberta das belezas naturais do arroio como a cascata e sua utilidade para o lazer. Conforme depoimento do Sr. Armindo Braatz, antigo morador e empresário do município no que se refere ao lazer junto ao arroio nos conta o seguinte: “Prosseguindo em seu curso, depois de vencer algumas curvas e ter estreitado seu leito, apertado entre canhadas mais acentuadas, as águas do rio Itaquarinchim em maior velocidade vão despencar-se em formidável cascata, de aproximadamente 10 metros de altura, formando, para quem olha contra ao sol, um arco-íris multi-colorido. Era local muito aprazível, sempre visitado, aos domingos e dias feriados, por grande número de pessoas. Algumas colhendo pitangas e cerejas, outras fisgando algum peixe e crianças brincando a roda viva”.

A cascata do Itaquarinchim hoje localizada na zona urbana da cidade, estava dentro da porção de terras que pertencia ao coronel Bráulio de Oliveira, que foi intendente do município de 1900 à 1916. Na obra “O Rio Grande do Sul”, Alfredo R. da Costa fez um detalhado levantamento da infra-estrutura, recursos, geografia e história dos municípios do estado no ano de 1922. Em seus registros sobre a Santo Ângelo da época encontramos o seguinte trecho:
O Coronel Bráulio possúe, também, uma linda cascata no arroio Itaquaranxim, situada a 1.000 metros distante da villa de Santo Ângelo. Junto à referida cascata, que poderá servir para exploração de qualquer industria, possúe o coronel Bráulio Oliveira um engenho para beneficiar arroz e moinho para milho movido a agua”.

As margens do Itaquarinchim deram lugar desde cedo as instalações de pequenas indústrias. Foi ao longo do arroio que corta a cidade que diferentes empreendimentos se desenvolveram e marcaram diferentes períodos do desenvolvimento econômico de Santo Ângelo. Em 06 de outubro de 1875, pouco mais de dois anos após a emancipação do município, já constava nos documentos da Câmara de Vereadores um pedido de instalação de um cortume, conforme documento do Acervo do Arquivo Histórico Municipal. No referido documento está expresso o seguinte: “Dis Antonio Manoel Ferreira que pretende estabellecer um cortume nos suburbios desta Villa, no lugar que s’acha dessolluto a margem direita do Arroio Ithaquaranxim estremando pelo lado do nascente com Saturnina de tal, e pelo lado do poente aonde de direito fôr, sem prejuiso de terceiros; e como não pode edificar o dito estabellecimento sem pedir a licença de NN.SSª vem por meio desta requerella”.

Em depoimento publicado no jornal A Tribuna Regional de 22 de março de 1997, o senhor Armindo Braatz cita diversas industrias que se desenvolveram ao longo do arroio. Entre elas a do Sr. Mathias José Vier que na década de 30 “construiu à margem direita do rio e à extrema esquerda da rua Tiradentes, um curtume para o fabrico de correias de couro”, acrescenta ainda em seu relato que no local estava instalado “um gigantesco gerador de energia elétrica que fornecia luz às casas dos operários”. Em artigo publicado no mesmo Jornal em 16 de fevereiro do mesmo ano, o senhor Braatz relatava a existência de uma fábrica de gelo de propriedade da família Frey, o gelo era produzido através de um desvio do arroio “que movia uma roda d’água. Esta, por sua vez, transmitia seus movimentos circulares a um conjunto de polias, cujas correias movimentavam as máquinas e equipamentos”. O gelo produzido em grandes barras abastecia a cidade numa época em que não existiam equipamentos elétricos para conservação de alimentos, remédios e outros produtos perecíveis. Nestes relatos o Sr. Braatz cita ainda desse período as seguintes indústrias: Sociedade de Banha Sul Riograndense Ltda, a Companhia Brasileira de Fumo em Folha, Moinho Santo-angelense Ltda e mais tarde, em 1940, a Sociedade Algodoeira Sul-Riograndense e o Curtume Basso. Descreve também empreendimentos mais recentes como a Cooperativa Tritícola de Santo Ângelo e a Fundimisa, que conforme seu entender assim como as demais indústrias se desenvolveram nas imediações do que ele chamava de “vale do rio Itaquarinchim”, já que a água era determinante para a produção das empresas.

Diversas destas empresas, assim como os momentos de lazer no entorno do Itaquarinchim, são hoje imagens de outras épocas, perdidas na memória e no tempo. Os documentos e relatos citados dizem de outros períodos históricos do arroio que é hoje um patrimônio natural local e apenas reafirmam a sua importância para Santo Ângelo. Algumas dessas histórias sobre o rio não são tão distantes, mas se tornaram difíceis de remontar na imaginação, principalmente para a população mais jovem devido às mudanças espaciais e geográficas promovidas pelos enormes e desmedidos avanços populacionais e tecnológicos das últimas décadas e que tem degradado a vida do mesmo. Mas o Itaquarinchim ainda resiste, e mesmo castigado pelos santo-angelenses, continua sendo para esses o que foi o Nilo para os egípcios.