terça-feira, 13 de outubro de 2009

Do Acervo do Arquivo Histórico


Fotos do livro, editado em 1900.

Trabalhar no Arquivo Histórico me traz muitas vezes o sentimento de voltar à infância. Daqueles dias chuvosos em que passava na casa de meus avós e remexia naquelas malas antigas e caixas de sapato repletas de papéis amarelados e fotografias. Ou então entrava no porão escuro para bisbilhotar os objetos que teimavam em perdurar ao longo do tempo naquele lugar que cheirava a umidade, poeira e história. Poder ler ou tocar em algo escrito ou produzido por alguém que passou pelo planeta, muitas vezes de tempos que ninguém mais existe para contar como era, é algo intrigante. Sentimentos se misturam: curiosidade, pertencimento e finitude.
Defronto-me as vezes com alguns documentos que me fazem esquecer do tempo e ficar envolto na leitura, buscando imaginar o que se passava naquele momento com a pessoa que escrevia, buscando recriar o cenário a sua volta e de que maneira o momento histórico e a conjuntura social em que o escritor estava submerso influenciavam na sua escrita. Assim, procurarei destacar aqui alguns documentos que me fizeram mergulhar no aspiral do tempo e viajar alguns instantes.
Dia desses, catalogando alguns livros da coleção do acervo me deparei com a obra “Inocência” do Visconde de Taunay, a quarta edição impressa no país, datada de 1900. Quantos exemplares foram produzidos na tiragem não há, mas um deles ainda resiste a força do tempo, nesses quase 110 anos de existência, e está guardado em nosso acervo. Os editores responsáveis (Laemmert e C. editores), escreveram o prefácio à quarta edição em 10 de agosto de 1898, porém o ano de impressão é 1900, o que me levou a refletir sobre a tamanha dificuldade e ao maquinário extremamente lento utilizado na tipografia da época se comparada à tecnologia atual. O livro pertenceu ao Sr. José Cezimbra, prefeito de Santo Ângelo entre os anos de 1938 e 1939, conforme assinatura do mesmo na borda e na primeira página.
Nas páginas iniciais o autor faz uma dedicatória ao amigo de infância José Antônio de Azevedo Castro onde diz: “Não é em valioso monumento que vou inscrever a tua lembrança; simplesmente na primeira pagina de uma narrativa campestre e despretenciosa, de um livro singelo e sem futuro”.
Singelo pode até ser, mas mal sabia Taunay que escrito nos últimos anos do período imperial brasileiro, seu livro atravessaria os tempos como uma das grandes obras da literatura brasileira.

Um comentário:

  1. Parabéns pelo blog, Darlan! Louvável sua iniciativa de trazer à luz fatos históricos de sua terra, com propriedade e sensibilidade aguçada. Um abraço!

    ResponderExcluir