quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A Região Missioneira e os Primeiros Habitantes III


Ao observarmos mais a fundo a sociedade Guarani pré-colonial, precisamos levar em conta a religiosidade, suas crenças e rituais. Nesse sentido podemos destacar uma religião com fundamentos politeístas, com a crença em várias divindades protetoras, mas com a sobreposição de um deus superior, criador de todas as coisas. Acreditavam ainda na imortalidade da alma, e que esta após a morte alcançaria a felicidade em um mundo sobrenatural. O cacique poderia exercer o papel de curandeiro e guia religioso, porém essa função na maioria das aldeias era exercida pelos pajés, que:


"(...) orientavam os indivíduos nas doenças e males, buscando soluções no canto das aves, chupando os locais doloridos ou extraindo deles objetos simbolizadores do mal. Provavelmente também estavam ligados à perpetuação e reinterpretação dos mitos, nos quais se veiculavam as verdades fundamentais do seu modo de ser e de viver". (SCHMITZ, 1991: 297-298).

Verdades estas que não interessaram aos missionários jesuítas que desconsideraram e suprimiram os principais aspectos dessa religiosidade frente ao culto cristão. Sendo assim, o pajé se transformaria, mais tarde, em um inimigo do jesuíta, afinal ele retinha o controle espiritual e intelectual da tribo e lutava contra a instituição do novo culto pregado pelos europeus.

Em vários relatos dos primeiros missionários que adentraram essas matas, podemos observar alguns rituais Guarani que foram abolidos pelos jesuítas durante a aplicação do projeto reducional. Entre esses se destacam as danças e bebedeiras com intuito de invocar espíritos de antepassados, rituais de sepultamento, onde o morto era colocado dentro de um grande vasilhame cerâmico em posição fetal coberto por um vasilhame menor onde acreditavam que a alma ficaria depositada, até os rituais antropofágicos elaborados, considerados pelos padres como atos de extrema crueldade, e que na concepção guarani não eram nada mais do que momentos de festa em que exaltavam a bravura dos guerreiros.

Apesar de muitos desses costumes e crenças terem escandalizado os missionários jesuítas quando da implantação reducional, o processo de transculturação não conseguiu apagar por completo aspectos do modo de vida Guarani. A experiência missionária levou os padres a conservarem, mesmo que com adaptações, alguns pontos dessa cultura “pagã” a fim de alcançarem sucesso na conversão desses povos ao catolicismo.
Fonte:
SCHMITZ, Pedro Ignácio. Migrantes da Amazônia: a tradição Tupiguarani (p. 295-330) In Arqueologia Pré- histórica do Rio Grande do Sul. Org.Arno Kern. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991

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